Texto Mary Jane

Depois de algum tempinho, Mary Jane nos enviou um textinho, espero que gostem...


O outro.

 O outro é sempre algo que eu não sou. Não quero. Talvez, não possa. Desconheço quaisquer que sejam suas razões. Na verdade, as ignoro. Nada em seu ser me aproxima ou leva a crer que fazemos parte do mesmo universo. Não vejo um fio de semelhança, nem mesmo se compartilhamos a única e verdadeira propriedade: 
somos gente.
Não vejo como gente aquele que pensa diferente de mim. Que ama e acredita em outras realidades, que não a que eu escolhi para ser minha. E as que eu não tive escolha? Essas aí são ainda mais duras – pensamentos absolutos de uma verdade única e incontestável. Como poderia aceitar quem diz não a tudo que (eu sei) é sim? “Eu sei”. “É assim.”
O outro é sempre quem sofre. Cabe ao outro padecer por todos os males que, eventualmente, assolam a condição humana. É quem adoece, quem leva um tiro, quem sofre acidentes, quem erra, quem peca, quem destrói.
Eu, não.
A mim, os prêmios merecidos a quem é detentor da verdade. Quem não erra, não tem dúvidas. Quem age acima de qualquer suspeita. Paz de espírito quase sempre conquistada pelo dedo em riste, pronto para apontar ao outro como ele é errado.
 Ora, se somos tão diferentes, sendo ele o outro e, obviamente, o errado, à mim, me resta ser o certo.  É uma prova irrefutável!
Sendo o certo, tenho pleno direito - e dever - de me indignar pelo outro se tão errado.
E aí o mundo fica um lugar bem lindo de se viver (quem se importa?).
De um lado eu, o certo. De outro, bem distante, o outro. Com seu estranho hábito de ser tão diferente de mim.
M.J

Beijos gente, até a próxima... 

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