O outro.
O outro é sempre algo
que eu não sou. Não quero. Talvez, não possa. Desconheço quaisquer que sejam
suas razões. Na verdade, as ignoro. Nada em seu ser me aproxima ou leva a crer
que fazemos parte do mesmo universo. Não vejo um fio de semelhança, nem mesmo
se compartilhamos a única e verdadeira propriedade:
somos gente.
Não vejo como gente aquele que pensa diferente de mim. Que ama
e acredita em outras realidades, que não a que eu escolhi para ser minha. E as
que eu não tive escolha? Essas aí são ainda mais duras – pensamentos absolutos
de uma verdade única e incontestável. Como poderia aceitar quem diz não a tudo
que (eu sei) é sim? “Eu sei”. “É assim.”
O outro é sempre quem sofre. Cabe ao outro padecer por todos
os males que, eventualmente, assolam a condição humana. É quem adoece, quem
leva um tiro, quem sofre acidentes, quem erra, quem peca, quem destrói.
Eu, não.
A mim, os prêmios merecidos a quem é detentor da verdade. Quem
não erra, não tem dúvidas. Quem age acima de qualquer suspeita. Paz de espírito
quase sempre conquistada pelo dedo em riste, pronto para apontar ao outro como
ele é errado.
Ora, se somos tão
diferentes, sendo ele o outro e, obviamente, o errado, à mim, me resta ser o
certo. É uma prova irrefutável!
Sendo o certo, tenho pleno direito - e dever - de me indignar
pelo outro se tão errado.
E aí o mundo fica um lugar bem lindo de se viver (quem se
importa?).
De um lado eu, o certo. De outro, bem distante, o outro. Com seu
estranho hábito de ser tão diferente de mim.
M.J
Beijos gente, até a próxima...
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